sexta-feira, 24 de março de 2017

Entrevista a Alexandre Calçada

Alexandre Manuel Matias Calçada, nasceu a 6 de Fevereiro do ano de 1995, no Hospital de Sousa Martins, na Guarda. Filho de Manuel Gomes Calçada e Isabel Vaz Matias Calçada e, há quase doze anos, irmão de Catarina Matias Calçada. Reside no Penedo da Sé, freguesia do Marmeleiro.
Cresceu na melhor aldeia das redondezas, na casa da avó Alice e da avó Gracinda e a jogar à bola na Casa da Sagrada Família. Fez o Ensino Básico nas escolas Augusto Gil e de Santa Clara, tendo terminado o 12º ano na Escola Secundária de Afonso de Albuquerque. Atualmente estuda na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. 
Adepto do desporto e fã da cidade mais alta, não dispensa um fim-de-semana na Guarda com a companhia dos familiares e amigos.

Que motivos levaram à escolha do curso que frequentas?
No término do ensino secundário, as razões pelas quais iria escolher ou não determinado curso não eram as mais claras. Penso que alguns factores me possam ter mobilizado de forma menos consciente para esta escolha. Por outro lado, após algum contacto, não só, com o exercício desta profissão, bem como com as necessidades da população neste aspeto, fazem com que agora talvez perceba melhor a razão daquela escolha. A possibilidade de poder conhecer melhor a história de cada um, que expõe todas as suas vulnerabilidades, tentar descobrir a causa do seu sofrimento e ao mesmo tempo minorá-lo, são as razões que me motivam a continuar a estudar e a escolher este curso todos os dias.

Como é o ambiente, como são as dinâmicas da cidade onde estudas (Lisboa) comparativamente com a Guarda?
A cada uma destas cidades associo momentos da vida distintos, o que as torna difíceis de comparar em alguns aspetos. Por outro lado são cidades muito diferentes em todos os níveis: quer sociais, académicos ou culturais. Lisboa é por eleição a cidade da pluralidade cultural, da diversidade, a porta de entrada para a Europa, a cidade do turismo, do mar, do trânsito desenfreado. A Guarda são as origens, a terra, a tranquilidade, o frio, a identidade, o porto seguro.

Que expectativas tens no términus do curso?
Após o Mestrado gostava de ter a oportunidade de poder ingressar numa especialidade médica, onde pudesse adquirir as capacidades e o conhecimento necessários para cumprir os objetivos que referi. Por outro lado, num eventual futuro, conciliar tudo isto com a vida familiar sempre foi o principal objetivo.

Voltar à Guarda está nos teus horizontes? Porquê? 
Nunca encarei a mudança de cidade, para o ingresso no Ensino Superior, como um ponto de partida para me fixar definitivamente noutro local. Sempre considerei a saída da Guarda como temporária. É aqui que estão as minhas origens, onde criei os maiores laços emocionais e familiares. É aqui que estão os costumes, as tradições e a tranquilidade que sempre me mantiveram apaixonado por esta terra. É a esta cidade que devo aquilo que sou e tudo o que aprendi. Reconheço que enquanto estudante me seja mais fácil manter este ponto de vista, mas espero que todas as futuras decisões me possam levar, mais cedo ou mais tarde, de volta.

És natural do Penedo-Marmeleiro. Como vês o futuro das comunidades rurais em geral e do Penedo em particular?
Apesar de não conseguir ter uma perspetiva semelhante à dos meus avós ou mesmo dos meus pais, que puderam presenciar uma outra face da vida nesta aldeia, as suas lembranças e relatos permitem-me ter uma ideia que como tudo já foi diferente. No entanto, não é preciso recuar muito mais de 15 anos para encontrar aqui uma escola primária ou ver outras caras conhecidas nestas ruas. Muito se perdeu para além disto. O envelhecimento da aldeia e das pessoas é mais que visível, mas é com muito agrado que posso presenciar não só as visitas cada vez mais frequentes, como também o regresso de pessoas à sua terra, nomeadamente após a idade da reforma. De facto, não é isto que permitirá um rejuvenescimento significativo da população, no entanto é a prova de que o bem-estar que estas terras do interior proporcionam não é esquecido. Não é de esperar que a curto prazo se estabeleçam grandes iniciativas que sustentem o desenvolvimento económico das pequenas aldeias, por outro lado, enquanto estas localidades forem motivo de saudade, alegria do regresso, convívio nos eventos festivos e tradições, estas continuarão na memória de todos. Que no futuro deixem de ser apenas um local de passagem.

Na tua opinião, quais seriam as medidas a tomar para travar a morte lenta do Interior como tal?
Existe a necessidade de, por um lado, reter as pessoas no interior e, por outro, atrair a população para o interior. Acordar a cidade que parece congelada no tempo. A dinamização da vida cultural e a animação das cidades é uma das formas de promover a permanência da população e aumentar o fluxo turístico na região. Medidas que facilitem a criação e manutenção de um negócio e que tragam benefícios ao investimento na nossa cidade comparativamente a outros locais. Medidas que favoreçam a procura das instituições de Ensino Superior no interior do país pelos jovens, diversificando e aumentando a oferta para a formação. Que seja vantajoso estudar, investir, viver aqui. Medidas estas muito vagas para a urgência da situação, mas que podem ser o início de algo melhor.

Vila Mendo, diz-te algo?
Durante muitos anos, todas as manhãs, a caminho da cidade da Guarda, me cruzei com as placas de trânsito que indicam o caminho até Vila Mendo. Até ao momento não sou o seu visitante mais assíduo, no entanto, para o povo e visitantes do mês de Agosto do Penedo da Sé, uma passagem pela Festa de Santo André sempre valeu a pena. Ainda neste sentido, a Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo impõe-se como um exemplo a seguir para a dinamização das localidades vizinhas.

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